Marcos Ramon

A imaginação


Montaigne escreveu, no capítulo XX dos seus Ensaios, sobre a força da imaginação. De acordo com ele, todos são, em alguma medida, tocados por ela, ainda que essa influência possa ser mais intensa em uns do que em outros. Sobre o efeito nele mesmo, o filósofo francês escreveu:

A visão das angústias dos outros me angustia fisicamente; e meu sentimento muitas vezes usurpou o sentimento de um terceiro. Alguém tossindo constantemente irrita meu pulmão e minha garganta. (…) Apodero-me do mal que estudo, e estabeleço-o em mim. Não estranho que a imaginação provoque febres, e a morte, àqueles que a deixam agir e que a encorajam. (Montaigne. Ensaios, capítulo XX)

Todo mundo já sentiu um pouco disso a que Montaigne se refere, lendo um livro ou assistindo a um filme muito impactante. Mas, mais do que isso, talvez a faculdade de imaginar influencie mesmo ações práticas das nossas vidas. E quando acreditamos que uma determinada coisa é realmente assim, é bem possível que seja apenas imaginação.

Em outro contexto, li uma vez (em um livro do Alberto Manguel) que o grafite preferido de Julio Cortázar, daqueles que ficaram famosos na jornada de Maio de 1968 na França, era um que dizia: “a imaginação no poder”. Talvez seja sempre assim, mesmo quando não queremos. Imaginamos mais do raciocinamos. Só não queremos acreditar.

Marcos Ramon

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo
comments powered by Disqus

Marcos Ramon / Professor de Filosofia, pesquisando estética e cibercultura.

Inscreva-se na newsletter para receber atualizações por email. 😉