Marcos Ramon

Guia para manter a sanidade em dia no Twitter


Parece desnecessário dizer qualquer coisa nessa linha. Afinal, as redes sociais são intuitivas e simples de usar. Mas é aí que está o problema, pois ficamos nas mãos do algoritmo e de comportamentos que podem ser nocivos ao extremo. Aqui deixo umas dicas do que considero importante para utilizar o Twitter em 2020 com o mínimo de controle.

Não compartilhe tudo

Em um dos livros do Austin Kleon, ele diz que sempre que pensa em postar alguma coisa na internet ele faz um rascunho e espera até o outro dia. Se aquilo continuar postável no dia seguinte ele aperta o botão “publicar”. Os sites de redes sociais, obviamente, não querem que você tenha esse comportamento. É melhor para o algoritmo que você publique tudo, que você se exponha sem medo. E esse já é um bom motivo para você não fazer isso.

Siga pessoas que compartilham arte

Artistas plásticos, desenhistas, músicos ou pessoas que admiram arte em geral são pessoas bacanas de seguir no Twitter. Não estou falando, claro, dos perfis oficiais de artistas super famosos (que, quase sempre, são gerenciados por empresas e com postagens controladas), mas perfis que compartilham trabalhos artísticos e coisas afins. Parte da beleza disso está no fato de que o Twitter poder ser visto como uma galeria aberta. E a experiência de descobrir arte por meio dos outros é sempre interessante.

Não entre na discussão

Para muita gente a grande vantagem das redes sociais é criar um ambiente livre em que podemos debater assuntos de nosso interesse. Não acho isso vantajoso. Primeiro, porque quase ninguém quer dialogar de verdade. A maioria quer apenas mostrar que está certo e apontar para quem está errado. É por isso que raramente você vai ver alguém mudando de opinião porque participou de uma discussão sobre determinado tema na internet. Falta empatia, falta comprometimento com a ideia do argumento, sobra arrogância de todos os lados. Não entre no debate.

Não siga o fio

A síndrome do explicador toma conta da gente quando estamos em uma rede social. Sentimos que temos o direito, senão a obrigação, de explicar para os outros como as coisas funcionam, apontando a realidade como ela é. Geralmente vemos isso no Twitter quando alguém começa com “segue o fio”, “acompanhe a thread” etc. Mas tudo que pode ser explicado no Twitter é melhor explicado em outro lugar (e pode ser na internet mesmo), em um formato melhor e com mais consistência. Se um tópico em discussão te interessa, pesquise sobre ele fora da rede social. Mas qual o problema da thread, se eu não me importar com o formato quebrado e a argumentação for minimamente adequada? É que é impossível acompanhá-la sem chegar perto de todo o lixo que ela leva junto — a multidão de pessoas que comentam, criticando e distorcendo cada palavra que é dita, ou aqueles que estão ali apenas para chamar a atenção. Pode tentar, você não vai conseguir ler as informações principais sem dar uma olhadinha em todo o resto. Por isso, a melhor solução é nem começar.

Crie regras

Talvez você esteja pensando que se for pra usar o Twitter do jeito que comentei antes é melhor nem usar. Mas o importante não é seguir as regras que eu elaborei, e sim seguir regras, impostas de você para você, em lugar de se render ao gosto do algoritmo e ao humor do comportamento de massa presente na rede social. A internet funciona melhor para as empresas quando você não pensa em como utilizá-las. Mas a pior coisa que você pode fazer é simplesmente seguir o fluxo, sem refletir. Muitas pesquisas apontam para o fato de que o uso das redes sociais nos deixa depressivos — e isso não é por acaso. Algumas coisas que eu disse aqui podem fazer sentido pra você, outras certamente não. Mas defina o que é importante pensando em como ficar bem. Crie regras. Tenha critérios. E use o Twitter sem perder a cabeça.

Nenhum guia é bom o suficiente se não puder ser adaptado para a realidade de quem precisa utilizá-lo. Realmente acredito que vale a pena considerar utilizar as redes sociais com mais parcimônia e pensando nos resultados que isso traz para a sua vida. o ano passado fiquei um bom tempo longe do Twitter e senti que a experiência foi positiva. Mas nem todo mundo pode ou quer ficar fora da internet. Por isso, elaborar formas de conviver com as adversidades ainda parece o melhor caminho. Esse guia, nesse sentido, é apenas uma provocação para te ajudar a encontrar o seu próprio jeito. O importante mesmo é não deixar de pensar sobre isso.

Marcos Ramon

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo
comments powered by Disqus

Marcos Ramon / Professor de Filosofia, pesquisando estética e cibercultura.

Inscreva-se na newsletter para receber atualizações por email. 😉